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segunda-feira, 27 de março de 2017

pilota-de-avião-mãe-princesa-bibliotecária-cantora-de-filme-super-heroína faz 4 anos.

e aí, no que pareceu um sopro de tempo, você chega aos quatro anos. lembro de ter você no colo ainda bebê, e de olhar para aquelas enormes crianças de quatro anos, pensar que para suas mães a maternidade já não era a novidade nenhuma, que elas deviam tirar tudo de letra, saber exatamente o que estavam fazendo e ter plena segurança sobre suas escolhas. tolinha, eu. amanhã completamos quatro anos dessa vida de mãe e filha e eu sigo achando tudo novidade, vivendo tudo intensamente.
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há três anos, nesta data, eu revivo aquela noite do seu nascimento. são as sensações, os cheiros, os sons de quando você vinha vindo. a dor era intensa, como se eu fosse virar do avesso. e foi mesmo isso que tive que fazer pra receber você, para ser sua mãe. renascer, me reconhecer, me construir outra. aquela manhã de quinta feira era só o começo. que delícia lembrar. e que delicia te contar a história do seu nascimento, que você agora tanto gosta de ouvir.
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você pede para ouvir sobre como era quando você era bebê e morávamos no Grajaú. vive curiosa perguntando porque a Chuchu é mais velha que você. adora ouvir sobre como descobrimos que você seria um bebê cabeludo numa ultrassom nas 32 semanas de gestação.
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aliás, você adora histórias. gosta de ouvi-las, de criar as suas próprias e contá-las. adora ser o centro das atenções e, pro meu descontentamento quase resignado, ama histórias de princesas e príncipes. minha filha, você veio ao mundo para me ensinar o verdadeiro sentido da expressão “cuspir pra cima”.   
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garotinha que não para nem por um minuto, você parece viver num musical, dança e canta o-tem-po-to-do. quando você era bebê eu, seu pai, seus avós, todos cantávamos pra você o tempo todo... e brincávamos nos perguntando como seria quando você descobrisse que a vida não é um musical. às vésperas do seu quarto aniversário parece que você ainda não descobriu. e torço para que isso não aconteça nem tão cedo. você vive em La La Land! e quase sempre é uma delícia viver nesse mundo musical contigo.
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o tempo passa rápido demais, nossas conversar são cada vez mais complexas – e tão bacanas! você já me perguntou coisas que eu não esperava ter que responder antes dos 10 anos, coisas que fazem ‘de onde vem os bebês?’ parecer fácil de responder. aproveito pra ir reelaborando minha visão de mundo a cada pergunta cabeluda que surge.
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além delas ainda tem as perguntas que me colocam num jogo de quiz constante: quantos ônibus passam num dia? por que a Chuchu tem rabo? o que é troco? por que o chão passa embaixo do nosso pé quando a gente anda? por que o mar é salgado? para onde vai toda essa gente do metrô? é sua sede de conhecimento e curiosidade sem fim!
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cresce, minha menina. cresce que o mundo é seu. vai ser o que quiser na vida... seja a pilota-de-avião-mãe-princesa-bibliotecária-cantora-de-filme-super-heroína que você quer ser. se depender da tua mãe, você terá uma companheira pra toda a vida, pra te apoiar e te acolher sempre.
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mamãe te ama. ama a mulher que se tornou com a sua chegada. e tá amando ver a menina forte e empoderada que você está se tornando.
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feliz 4 anos.
sigamos juntas, meu amor.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

a falta da cara amassada.

recentemente voltei a trabalhar. na verdade mudei o esquema de trabalho, pq de verdade mesmo eu nunca parei de trabalhar, nem quando ela era mt bebê. toda a vida da minha filha de 3 anos e 2 meses foi comigo trabalhando de casa ou com curtos períodos de intenso trabalho fora dela. agora eu saio antes da cria acordar e vou buscá-la na escola logo após o trabalho.

eu estava preparada pra sentir o corpo reclamando de sair da cama com o dia ainda por amanhecer. eu estava preparada pro corpo reclamar de comer fora todo dia. eu estava preparada pra amar/odiar o trabalho. eu não estava preparada para morrer de saudades da minha filha.

vejam bem, ela tem 3 anos. dorme na casa do pai dela desde os 18m. desde o ano passado está numa creche maravilhosa em período integral. é criança feliz e independente. então não é que de uma hora pra outra nós duas estejamos passando muito mais tempo separadas do que costumávamos passar. não é que ela esteja sofrendo, eu tô! tá... eu tô um pouquinho, mas dá licença de fazer um drama pq o texto é meu e o blog também.

ela tá bem.

na roda do esquemão, para que eu consiga sair pra trabalhar bem cedo, entrou o papai, a vovó e o vovô com participações maiores e a ilustríssima contribuição do dindo, que sai do caminho dele pra buscar a afilhada em casa e levar na creche antes de ir ele mesmo pro trabalho. mamãe trabalha feliz podendo contar com rede de apoio. criança estreita laços com cuidadores que ela ama e que amam ela. todo mundo ganha.
mas a mãe tá lá com aquele aperto no peito.
não é aperto terrível. não é tristeza. é uma saudade roxa. uma 'melancoliazinha' chata de não ver mais diariamente a cara amassada dela quando acorda. é uma culpamaterna esquisita de estar amando o trabalho e todo o universo que o envolve. é a surpresa de estar sentindo tudo isso sendo que não tenho mais um bebê em casa...
mas aí cai a ficha de que tô saindo de casa sem ver a carinha amassada dela pra fazer algo que tô amando fazer. e mais além, penso que o melhor exemplo que minha filha pode ter é o de uma mãe feliz na maternidade, mas tb de mulher realizada com o que faz. daí o aperto afrouxa, a melancolia dá um tempo e o final de semana chega pra matar a saudade.
pq cabem muito mais mulheres aqui dentro do que só ser mãe da Dora.

terça-feira, 8 de março de 2016

oito de março.

quer me desejar um feliz dia da mulher? me pague um salário equivalente ao que ganham homens da mesma idade e com mesma escolaridade que eu. lute por um mercado de trabalho que trate da mesma forma pais e mães. apoie a legalização do aborto. aceite o ‘não!’ que eu te disse na balada sem me chamar de vagabunda. disfarce a cara de surpresa quando eu te contar que tenho uma filha pequena e saio a noite e bebo e fumo e trepo. guarde pra você os comentários sobre o tamanho da minha saia, junto com o que você pensa sobre meus mamilos estarem marcando a blusa. não elogie minha filha dizendo que ela ‘é linda e vai dar um trabalhão pro pai quando crescer’. não me chame de ‘meu amor’ se você está apenas me atendendo numa loja. guarde pra você comentários machistas e não se justifique dizendo que o que você falou ‘foi só uma piadinha’. se uma mulher apontar machismo na tua fala, apenas acate e reflita. pare de achar que eu preciso de um homem para me sentir plena, feliz e segura. deixe minha filha crescer livre ser o que ela quiser ser. crie você também o seu filho para crescer livre e ser o que ele quiser ser, vai que ele descobre que quer ser uma mulher e você tava aí pensando que não precisaria ser preocupar com os direitos das mulheres...
#nãoqueroflores #DiaInternacionaldaMulher

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

#desafiodamaternidade ou 'tô fora de padecer no paraíso!'

conseguir parir, mesmo sofrendo violência obstétrica, querer ter meu corpo e minhas escolhas respeitados pela equipe médica. aceitar que o parto que tive foi o parto possível para mim e para minha filha naquele momento, com as informações que eu tinha naquele momento.

passar pela abissal solidão do puerpério.

afirmar-me constantemente como mãe-capaz para parentes, amigos e sociedade em geral compartilhando e explicando minhas escolhas-fora-da-caixa.

morar sozinha com bebê de colo por meses. e lidar, ainda, com a solidão imensa que a maternidade traz.

fazer um mestrado com uma filha de 2 anos.

seguir buscando os melhores caminhos para mim e para ela lutando para não entrar no piloto-automático da criação de filhos.

ouvir dos outros que ‘você não devia beber cerveja se ainda amamenta’, nem ‘sair a noite sair a noite se tem filha pequena’, da sorte que tenho da minha filha ter um pai presente e – o clássico – ‘filho é da mulher, né?’

sentir-me a única responsável por cuidar/organizar/decidir sobre questões da vida da minha filha como a sua rotina semanal, qual escola vai estudar, se faz ou não atividades extra-classe, quando e a qual pediatra/dentista levar, etc. e, sendo aquela que 'dá a palavra final', arcar com as consequências/dúvidas/inseguranças que essas decisões trazem.

argumentar – agora diretamente com ela – que rosa não é cor de menina; que homens podem beijar homens na boca, se isso os faz felizes; que a moça dirigindo o ônibus pode dirigir o ônibus e qualquer outra coisa que ela tiver afim de dirigir; que antes de casar com o príncipe, a princesa bem podia viajar/estudar/conhecer outros príncipes; que o cabelo dela pode ser cacheado, liso ou do jeito que ela quiser.

ser rotulada de chata por questionar a normalização do consumismo infantil; questionar a adultização das nossas meninas; questionar a medicalização da infância. por questionar tudo o tempo todo...

estes são meus desafios da maternidade. perdoem-me, mas disto não tenho foto. sou feliz em ser mãe apesar disso. o amor, o cheirinho de bebê, as fofurices, os marcos de desenvolvimento, os sorrisos, os abraços fazem parte da maternidade sim. mas os fatos acima listados são o que me fazem a mãe que sou hoje e da qual me orgulho.

são só três anos nesse papel, ainda vou passar por muita coisa das quais não faço ideia que me esperam, mas quero sempre lembrar desse início, quando percebi que maternidade é paradoxal e que a foto beijoca-do-pai-na-barriga está bem longe da realidade do dia a dia.


tô fora de padecer no paraíso.    

terça-feira, 27 de outubro de 2015

#primeiroassédio

todas nós temos histórias de um primeiro assédio. todas nós temos histórias de muitos outros assédios mais. eles vieram de pessoas que deviam nos amar e nos proteger, mas que nos marcaram pra sempre com cenas que acabamos guardando lá no fundo da memória para que nunca sejam lembradas. vieram de completos estranhos que acham que não fizeram nada demais com aqueles olhares, palavras ou toques.

me embrulha o estômago pensar nas grandes chances que minha filha tem de passar por isso, de sentir o mesmo medo, constrangimento, nojo e culpa que eu senti por tantas vezes, por tanto anos. será que ela também vai demorar mais de vinte anos para entender que a culpa não é dela, que não é ela a se sentir constrangida, que não é ela a pessoa nojenta daquele contexto, que ela não precisa sentir medo? e, mais importante de tudo, será que precisa demorar décadas para que ela entenda que não precisa se calar diante disto?

vamos contar sobre o #primeiroassédio, o segundo, o terceiro, o décimo oitavo, o trigésimo! vamos falar sobre isso! até que fique bem claro que não é 'só uma cantada', que a menina de doze anos não é uma 'novinha' e que o corpo de uma mulher pertence a ela e somente a ela.

deu pra entender ou quer que desenhe?

segunda-feira, 27 de julho de 2015

quando foi que a militância pelo direito ao parto normal virou luta contra as mulheres que fizeram cesáreas?

querida mulher que passou de forma consciente por uma cesariana para que seu filho nascesse,

a luta a favor do parto normal não é contra você. 

quem busca e consegue um parto normal - ainda que esteja sujeita uma série de violências obstétricas - não acha que você ama menos o seu bebê e ela ama mais o dela por que você optou passar por uma cirurgia e ela não. é serio. se tua via de parto foi respeitada e a dela também, parabéns! ambas são privilegiadas por isso, você sabia? sim, pois dentre a clientes de planos de saúde, mais de 60% das mulheres começam sua gestação afirmando que querem ter seu bebê por parto normal, sabemos que menos de 20% tem seu parto por via vaginal. que tipo de escolha é essa?
como podemos falar de respeitar a vontade da mulher quando essa ‘opinião’ muda tão radicalmente em algumas semanas?  existe um mercado sustentado por essas cirurgias pré-agendadas – e que, não raro, são ditas ‘de emergência’ para a gestante e sua família. um hospital que ganha mais se tem previsão exata de quantas pacientes passarão pela sala de parto por dia. equipes médicas ganham que mais se planejam bem seu tempo dentro do hospital e dentro do consultório. imagine o que gasta uma paciente que opta por parir naturalmente em contraste com uma que passa por uma cirurgia onde há a necessidade de incontáveis recursos hospitalares. cabe a nós questionar o funcionamento desse mercado e refletir o quão ético é seguir alimentando o mesmo, não?
é indiscutível que cabe a mulher a total autonomia sobre o seu corpo. e não somente no parto, desde o seu nascimento. e essa autonomia passa pela consciência. meninas precisam conhecer seus corpos, aprender que podem se tocar, se conhecer, se masturbar e não ter vergonha disso. saber sobre reprodução vai muito além de contar os prováveis 28 dias do ciclo menstrual e colocar camisinha em banana num curto tempo de aula de ciências no oitavo ano. ensinemos as nossas meninas sobre o método Billings, alternativas aos absorventes de farmácia – absorventes de pano, coletores -, sobre formas de lidar com as cólicas. arranquemos o rótulo tragicômico da tensão pré-menstrual. ensinemos a elas a lidarem com seus corpos em vez de temerem os mesmos.
nós crescemos ouvindo como o corpo feminino é defeituoso: somos o sexo frágil; somos muito magras ou estamos acima do peso; nossos peitos são muito pequenos, muito grandes, caídos, diferentes entre si; o quadril é muito largo ou muito estreito. não há corpo feminino perfeito possível! o que nos é apresentado na mídia chega a ser risível, se olharmos atentamente. buscamos a cintura da Cinderela ou os seios da Lara Croft? tudo isso diminui a confiança da mulher sobre o próprio corpo. e o momento da gestação/parto/amamentação é só mais um momento onde olhamos para nós mesmas desacreditadas. quem vai se entender capaz de parir quando tem para isso uma ferramenta tão imperfeita e tão falha como o corpo feminino?
mulheres têm a confiança minada, pela ideia de que seus corpos são falhos e incapazes (ou elas mesmas o são, por consequência) e precisam de ajuda médica. como a mulher pode “escolher” se os médicos estão direcionando essa escolha? se os convênios possuem taxas de quase 90% de cesáreas há algo de muito grave nos corpos das mulheres ou no atendimento obstétrico?
o movimento da humanização do parto – que é plural e polifônico como todo movimento social – de modo geral propõe justamente divulgar informação para que a mulher tenha autonomia em relação ao seu corpo e seu parto. não é uma luta anti-escolha, muito menos anti-mulher-que-faz-cesárea, mas a favor da autonomia da mulher.
estamos jogando no mesmo time.


Ana Luz



colaboração: Marina Nucci