segunda-feira, 7 de março de 2016

recado grávido

prezado ser-humano-não-gestante,
se você vê uma gestante fazendo algo que - você acha que - ela não deveria fazer por conta da gestação e sente uma necessidade incontrolável de alertá-la sobre suas atitudes, observe o tamanho da barriga. pense que quanto maior o tamanho da barriga, maior a chance dela já ter ouvido o que você tem a dizer a ela. se, ainda assim, você optar pelo alerta, faça-o de maneira gentil e simpática.
ao final do seu discurso, deseje tudo de bom a gestante e seu bebê e pare por aí. nenhuma mulher grávida gosta de ficar ouvindo histórias trágicas de como você conhece "n" mulheres que perderam bebês de formas banais ou trágicas.
grata pela atenção,
ser-humano-gestante-com-níveis-perigosamente-baixos-de-paciência

(texto original de mar/13 
- 35 semanas de gravidez)

quarta-feira, 2 de março de 2016

pum de quê?

*fedor familiar*

- filha, você soltou pum?

- sim!
- foi pum de pum ou pum de vontade de fazer cocô?
- não, mamãe... relaxa.
- foi pum de quê, então?
- esse pum foi de vontade de brincar.

Dora, 2 anos, 11 meses e 3 dias.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

#desafiodamaternidade ou 'tô fora de padecer no paraíso!'

conseguir parir, mesmo sofrendo violência obstétrica, querer ter meu corpo e minhas escolhas respeitados pela equipe médica. aceitar que o parto que tive foi o parto possível para mim e para minha filha naquele momento, com as informações que eu tinha naquele momento.

passar pela abissal solidão do puerpério.

afirmar-me constantemente como mãe-capaz para parentes, amigos e sociedade em geral compartilhando e explicando minhas escolhas-fora-da-caixa.

morar sozinha com bebê de colo por meses. e lidar, ainda, com a solidão imensa que a maternidade traz.

fazer um mestrado com uma filha de 2 anos.

seguir buscando os melhores caminhos para mim e para ela lutando para não entrar no piloto-automático da criação de filhos.

ouvir dos outros que ‘você não devia beber cerveja se ainda amamenta’, nem ‘sair a noite sair a noite se tem filha pequena’, da sorte que tenho da minha filha ter um pai presente e – o clássico – ‘filho é da mulher, né?’

sentir-me a única responsável por cuidar/organizar/decidir sobre questões da vida da minha filha como a sua rotina semanal, qual escola vai estudar, se faz ou não atividades extra-classe, quando e a qual pediatra/dentista levar, etc. e, sendo aquela que 'dá a palavra final', arcar com as consequências/dúvidas/inseguranças que essas decisões trazem.

argumentar – agora diretamente com ela – que rosa não é cor de menina; que homens podem beijar homens na boca, se isso os faz felizes; que a moça dirigindo o ônibus pode dirigir o ônibus e qualquer outra coisa que ela tiver afim de dirigir; que antes de casar com o príncipe, a princesa bem podia viajar/estudar/conhecer outros príncipes; que o cabelo dela pode ser cacheado, liso ou do jeito que ela quiser.

ser rotulada de chata por questionar a normalização do consumismo infantil; questionar a adultização das nossas meninas; questionar a medicalização da infância. por questionar tudo o tempo todo...

estes são meus desafios da maternidade. perdoem-me, mas disto não tenho foto. sou feliz em ser mãe apesar disso. o amor, o cheirinho de bebê, as fofurices, os marcos de desenvolvimento, os sorrisos, os abraços fazem parte da maternidade sim. mas os fatos acima listados são o que me fazem a mãe que sou hoje e da qual me orgulho.

são só três anos nesse papel, ainda vou passar por muita coisa das quais não faço ideia que me esperam, mas quero sempre lembrar desse início, quando percebi que maternidade é paradoxal e que a foto beijoca-do-pai-na-barriga está bem longe da realidade do dia a dia.


tô fora de padecer no paraíso.    

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

escuta.

num grupo de maternidade duma rede social surge um debate polêmico sobre o racismo. e outro. e mais um. e tantos mais. para não sair – tanto – do âmbito do grupo, eles tem como provocadores o uso de slings por mulheres brancas, uso de turbantes também por elas, uma campanha numa loja de roupa infantil de gosto duvidoso, etc.

na atual conjuntura, tenho a impressão de que qualquer tema pode ser gatilho de uma discussão acalorada sobre racismo. e não é pequeno o número de pessoas que vejo reclamando do tom destes debates. ‘Parecem dois monólogos!’ ‘Não há escuta!’, ‘Tem respostas muito agressivas!’ – queixam-se.

pois bem, concordo. fossem teatralizados, esses posts contariam com duas pessoas numa praça pública, ambas com megafones, cada uma entoando seus próprios argumentos enquanto engasgam sem ar por ignorarem as virgulas do discurso. me incomodam esses bate-bocas online – que nada tem de virtuais, pelo contrário, são bem reais - onde parece que o autor do último comentário sequer refletiu/digeriu a fala do penúltimo comentário. mas considero esses 'duplo-monólogos’ extremamente válidos, pois, em muitos casos, é a primeira vez que a segunda voz é falada em praça pública.

e a ideia destas discussões parecerem dois monólogos incomoda demais. incomoda, pois até pouco tempo o dono da voz era só um: o do branco, neste caso. o do homem, no caso do feminismo. o dos héteros, no caso do movimento LGBT. e assim por aí vai.

e o tom incomoda mais ainda, pois ele agora é de igual para igual. nessa praça todos tem direito a um megafone.

mas, voltando as discussões acerca do racismo, não posso dizer que são agressivas as falas das mulheres negras acerca da apropriação cultural no uso de slings ou turbantes pelas mulheres brancas, pois eu nunca estive no lugar do negro para saber se o meu discurso enquanto mulher branca é agressivo. e preciso do olhar do outro para me dizer agressiva ou não.  se uma senhora negra passa pela vitrine de uma loja de roupas e se horroriza com manequim negro – ou pintado de preto, como os porta-vozes da marca idiotamente insistem em dizer – virado de cabeça para baixo, o sr.  Rony Meisler deve enfiar a viola no saco e admitir o incômodo que causou. sendo mãe de uma criança pequena, preciso acreditar num mundo melhor, então prefiro crer que o intuito da marca não foi fazer uma apologia a práticas de tortura durante a escravidão e causar esse ''’’’’desconforto’’’’’’, mas causou. e, sinto muito, mas só o negro tem propriedade pra dizer se isso incomodou ou não. como só a mulher pode dizer se o ‘fiu fiu’ foi desrespeitoso ou não. e, de novo, por aí vai...


por fim, acompanhando esses entusiasmados debates, penso que envolvem, em sua maioria, questões onde dificilmente chegar-se-á a um meio termo. mas o debate é sempre válido. o debate é necessário. e fica aqui uma última provocação: será que essa escuta não está mais difícil, pois agora existem outras vozes nesse debate? 

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

presentes da chuva.

hoje, no caminho entre um passeio e uma reunião, optei por pegar um ônibus em vez de ir de metrô. faço isso poucas vezes por conta do estado em que geralmente se encontram o ônibus da nossa cidade - vergonhosamente sujos, ar condicionado desligado e janelas trancadas - e, além de demorar mais no trajeto por conta do trânsito, estamos naquelas semanas do ano entre um reajuste e outro de passagem quando a tarifa do metrô é mais barata do que a dos ônibus. mas hoje, mesmo atrasada e em dia de chuva, fomos, ela e eu, de ônibus.

apesar de todos os contras, andar de ônibus com uma criança é muito mais legal do que de metrô. enquanto o eficiente caminho por baixo da terra requer esforços nossos para entretenimento da cria, no ônibus o entretenimento está dado: ela olha pela janela. e ela me convida a olhar pela janela com ela. 'olha, mamãe, aquele carro TÃO azul!', 'uaaau um trato-or!', 'uuuum... dois... três... eram três pessoas com guarda-chuvas... pq está chovendo, né mamãããee?', 'olha lá uma estátua de príncipe no cavalo!', 'mas que bagunça esses moços de obra estão fazendo...'

impossível evitar, entro na brincadeira. 'é um carro SUPER azul, né filha!?', 'aonde você acha que vai esse trator?', 'olha aquele outro moço de capa de chuva...', 'quem será aquele moço no cavalo?', 'essa obra é mesmo uma bagunça... olha o tamanho desse buraco!' 

que delícia de jogo!

ainda olhando pela janela, enquanto cruzamos o centro da cidade por uma avenida que há poucos dias teve seu trânsito completamente mudado e que tantas pessoas reclamaram, ela não se importa com o trânsito lento e, após contar meia dúzia de poças, afirma:

'as poças são presentes da chuva para mim... por que eu gosto de pisar nelas quando eu tô de galochas'



posso querer a companhia dela para sempre? posso querer nunca ficar cega deste olhar tão encantado para tudo? me apaixono.

<3 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

dorices de outrora

entre os 16 e os 19 meses, foi isso que rolou:

entrego algo nas mão da Dora e ela:
- de nada mamãe.
- filha, quando a mamãe dá algo pra Dora, a Dora diz "obrigada, mamãe" e a mamãe é quem diz "de nada, filha" - entrego outro objeto a ela. e pergunto: 
- o que a Dora diz?
- de nada mamãe!



<3




ela anda fascinada por baleias. hoje, por acaso, encontrei um livro em casa, "o caracol e a baleia". o resultado: ela pula e exclama "baleiaaaa!" a cada página virada e, ao fim da história, um delicioso "mais mamãe, mais!"

Emoticon

<3

passamos por um cachorro.
ela: "óia! tachoiô!"
eu: "um tachoio filha!?"
ela: "tachoio não! tá-cho-iô!"

.

.
com uma coruja de brinquedo na mão.
ela: "é minha xiôúja"
eu: "eu sei filha, sua xiôúja"
ela: "xiôúja não... xiô-úja!"
.
.
ou seja, não é pq ela não sabe falar direito que a gente não vai falar direito com ela.




<3



"pupa pé! pupa pé! pupa pé!"

ela corre de um lado a outro na ponta do pé
Emoticon tongue

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

de onde as pessoas acham que o nome dela veio.

não são poucas e ainda serão muitas mais as vezes que associam o nome dela ao nome da personagem do desenho animado. e não há uma só vez em que eu não deseje uma coragem maior ou um filtro social menor para dar a seguinte resposta:

.
'qual o nome dela?'
'Dora.'
'que lindo! por causa do desenho, né?'
'claro! liguei na Discovery Kids e ela chutou. ainda bem que tava passando 'Dora, a aventureira' e não 'Peppa Pig'.'
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ah se a vida me permitisse esse grau de sinceridade.