sexta-feira, 27 de março de 2015

ela vem chegando...

dez e meia... há dois anos atrás tinha início o nosso balé. de alguma forma que a ciência ainda não conseguiu explicar, você avisou que estava na sua hora. que não esperaria a Páscoa ou o mês de Abril, como muitos insistiam que seria. parto, amamentação, puerpério, separação, mestrado, e você ali do meu lado. sendo, ironicamente, a minha luz. naquele 27 de março, eu não tinha ideia do que viria pela frente. e eu ainda não tenho. até aquele, o 28 de março era uma data sem peso algum no ano. e agora é também o meu aniversário.

às vezes me pego pensando em como será quando essa intensidade passar. ou quando será que vou parar de acordar e me surpreender... "caralho, sou mãe!" será que um dia passa? será que quero que passe? estou tão apaixonada por você nesse momento. é paixão arrebatadora. de ter acabado de colocar você para dormir e querer ir ali dar uma fungada no teu cangote. ou pior, querer te acordar pra ouvir qualquer anedota que você tenha para me contar. você dorme na cama ao lado e eu morro de saudades. estou louca! como disse, apaixonada. até aquele olhar boçal de quem acaba de descobrir o amor eu tenho...

sobre a saudade. ela é constante. agora, sinto saudade de você ali na sala, há duas horas atrás. mas também sinto saudade de você com bumbum de fralda. ou de quando você vinha engatinhando ao meu encontro. de ter você levinha, inerte, recém-nascida adormecida grudada no meu peito. e ainda consigo ter saudades de você como está agora. saudades antecipadas. de ver você crescer. de ver você falando tudo. cantando 'a canoa virou por causa de' todas as pessoas que você conhece. saudade de você indo pra escola. saudade do passado. saudade do presente. saudade do futuro. e aí volto na intensidade... quando será que ela vai passar?

você se mostra muito parecida com o que imaginei. e tua personalidade já era evidente antes de nascer e nas suas primeiras semanas de vida. garota forte. decidida. independente. abusada. extrovertida. solar. pra estar em paz contigo o exercício da negociação é constante. você tem que ser convencida das coisas. e que não venham com o papo de 'tira a mão daí pq tem bicho aí dentro'... não, você exige explicações plausíveis, sérias. é tanta personalidade que as vezes esqueço que você é só uma menininha de dois anos em breve. e que tem sono, e quando tem sono nada tá bom, e quer colo, aconchego e uma canção de ninar.

é clichê dizer isso no aniversário, mas, minha filha, desejo que você continue sendo o que demonstrou ser até agora. você canta, você encanta. ilumina o rosto de quem a vê. e não, não é corujice de mãe - ok, talvez um pouco... - siga envolvendo o mundo com amor, sem nunca se conformar com uma situação que lhe desagrade.

mamãe ama você. ama a mulher que se tornou depois que você nasceu. e ama a parceria que estamos construindo.  
feliz aniversário, Dora.

quinta-feira, 26 de março de 2015

como viemos ao mundo eu e ela.

Foi hoje, ou ontem(?) que vi um post onde falaram sobre kristeller. Comentei de pronto: “sofri a manobra e sofro com isso até hoje”. A parte do “sofro com isto até hoje” caiu no meu colo como um tijolo. Só ali percebi que a lembrança do meu parto também me doía. E, nesses quase dois anos, eu ainda não tinha me dado conta disto, já que a minha resposta usual é de que me orgulho – e muito! – do meu parto normal.  Contextualizemos, então:

Eu, 26 anos, inesperadamente grávida do namorido mergulho no mundo da pré-maternidade. Assistida por uma GO* fofinha, era minha médica havia quase dez anos. Lá pelas 20 e muitas ou 30 semanas eu percebo seu perfil clássico cesarista – “Vamos nos preocupar com o parto mais pra frente, Aninha?”, “O pai dela é alto, né? E você tão pequenininha, como faremos isso, hein?”, “Quarta feira é o dia da Dra. atender as gravidinhas e fazer os partos.”, “Parir de cócoras é coisa que só as índias sabem fazer, a mulher moderna não tem musculatura apropriada para isso”, etc - e ensaio uma troca de médico. Não dá certo. Minha DPP** tampouco ajuda, já que caía exatamente na semana santa. Eu volto a minha médica certa de que é melhor ter alguém que saiba com quem está falando caso eu ligue em TP*** no meio da madrugada (o que, por acaso, foi exatamente o que aconteceu). Sigo nadando contra a corrente o máximo que conseguiria naquele momento com as informações que eu tinha até então. Vale lembrar que fui a primeira das minhas amigas a engravidar e, na minha família, o último “bebê” tirou carteira de motorista este ano. Então não tinha em quem me espelhar. Desbravei – e ainda desbravo - eu mesma o caminho que queria trilhar. Nunca duvidei que ela nasceria de parto normal. Apesar de vir de uma família que se divide entre histórias cesáreas ou partos normais desastrosos eu respondia prontamente a qualquer questionamento sobre o tema: “ela entrou por vias normais, vai sair por vias normais.” E, vez por outra, justificava: “tenho pânico de agulha e ninguém vai me cortar”. Por fim, chegamos às 37 semanas de uma gravidez de notável tranquilidade. Nem vomitar nos primeiros meses eu vomitei. Pouca azia. Algum desconforto com chutes nas costelas ou inchaço nos pés. Mas absolutamente nada que indicasse uma cirurgia, necessária ou não.

Dia 25 de março, uma segunda feira, fomos, o namorido e eu, ao cinema. Completaríamos 38 semanas na quarta feira. Não sei dizer o filme, mas lembro de pegar o celular a cada dez minutos, pois já sentia algumas contrações, e as contava, em segredo. Não me preocupei, já que outra coisa que ouvi bastante durante a gestação é que o primeiro filho nunca chega com 38 semanas. Recebi um telefonema do consultório da GO:

“Ana, você tem consulta amanhã, né?”
“Sim!”
“Vamos deixar para quarta, que é o dia do seu parto?”  (!!!)
“Quarta completo 38 semanas, não é o dia do meu parto. Mas pode remarcar a consulta sim.”

Com a consulta reagendada, na terça, fiz aula de hidroginástica, fui ao Saara comprar qualquer-coisa-indispensável-ao-bem-estar-do-meu-bebê-mas-que-agora-já-não-me-lembro-mais, tomei sorvete, um dia normal. Na quarta feira eu estava, pela manhã, no consultório. Contei pra ela das contrações sem muito ritmo desde segunda feira, disse que me sentia bem. Ela fez o toque – fazia em todas as consultas, tão logo a barriga começou a crescer – e me mandou pra maternidade fazer alguns exames “de rotina”: “Aninha, essa mocinha pode ficar aí mais uns dias, mas pode resolver vir logo também”. Dentre as guias de exames: uma de internação.

Fui pra casa dos meus pais. Almocei e me preparei pra ir a maternidade. Ambos insistiram que eu fosse acompanhada. Mas algo que surgiu em mim desde o início da gravidez foi uma independência que nunca tive. Dispensei a companhia. Dei um abraço longo no meu pai e sorri dizendo: “sua netinha tá querendo chegar”. Nunca me esqueço desse abraço meio sem jeito e emocionado. Parti pra Perinatal de Laranjeiras.

Passei a tarde lá fazendo toda sorte de exames. Tudo normal. Tu-do. Não foi surpresa, nada diferente das 38 semanas anteriores. Todos que me atendiam repetiam animadamente que logo eu estaria com ela nos braços ou poderia ficar ali dentro mais uns dias. Por fim, liguei pra médica e passei por telefone mesmo os resultados. Ela me sugeriu que eu ficasse lá que ela orientaria as enfermeiras pra me colocar no sorinhoe já “resolvia isso logo”. Eu agradeci. Disse a ela que voltaria no dia seguinte ao seu consultório.

Vejam bem, eu, em momento algum, percebi a forma como ela conduzia as coisas e ao me recusar a ficar lá só o fiz por realmente acreditar que minha filha não chegaria tão rápido. Mal sabia eu do que estava me livrando. E só descobriria, algumas poucas semanas depois, o que significava o tal sorinho.

Voltei pra casa dos meus pais. Já com contrações um pouco mais fortes. Aguardei o namorido chegar e iriamos pra casa – do outro lado da cidade – juntos. Me lembro de estar deitada na cama dos meus pais quando percebi que o desconforto virava dor. Chegamos em casa por volta das dez da noite. Contávamos juntos as contrações. Em algum momento eu fui para o chuveiro. Puro instinto, nunca tinha lido nada sobre água quente melhorar a sensação das contrações. Fiquei lá por não sei quanto tempo. Ele diz que cheguei a dormir um pouco sentada num banco com a água caindo nas minhas costas. Outra cena que ainda vem a minha memória é o longo corredor do apartamento onde morava, eu andando de uma ponta a outra e parando pra sentir as contrações, me agachava, me alongava, rebolava. Alguma força maior me orientou naquele momento, alguém me guiava por aquele portal. Ainda que sem conhecimento literal da situação eu a vivia inteira- e intensamente. Saindo do chuveiro fui pra cama pensando “vou logo dormir, pra ir amanhã cedo ao consultório”. Quanta inocência! Me intriga a forma como eu, totalmente entregue e consciente do meu corpo durante o trabalho de parto não tinha ciência plena de que minha filha já estava a caminho. Talvez menos de 15 minutos deitada na cama ouvi um “ploc”. A bolsa estourou. Meu primeiro pensamento “Bosta! Tanto tempo no chuveiro, a bolsa estoura na cama! Logo hoje que foi dia da faxineira!” Só então aceitei que não demoraria para ter minha filha nos braços.

O que segue depois disso são flashes. Namorido demorou pra conseguir falar com a médica. A mala não estava completamente pronta. Era de madrugada e também não foi muito fácil achar um taxi. Apesar disso: tranquilidade, felicidade e ansiedade com o momento, concentração total no corpo. Fechei a mala. A médica não atendia o celular. Não atendia em casa. O auxiliar falou que ela tinha acabado de sair da Perinatal, passou o telefone de casa. Em casa, uma tia idosa, disse que ela estava no banho, pois havia acabado de chegar. Daria o recado. Conseguimos um taxi. Eu pedia que ele fosse devagar, cada movimento mais brusco do carro doía e nesse momento não tinha concentração que ajudasse.

Chegamos a Perinatal por volta de 4h da manhã. Só sei o número por conta da etiqueta que ganhamos. Lembro de ficar feliz por encontrar um segurança sorridente e de me irritar com a recepcionista que me perguntava como eu estava me sentindo. A essa altura, os avós já estavam avisados. Fui levada pra sala do primeiro atendimento onde a moça me deu Buscopan para as contrações. Meu sarcasmo natural me fez rir na cara dela: “é sério que você está me dando um remédio que eu tomo pra cólica?”. Ela sorriu sem graça. No hospital perdi parte do meu controle sobre o meu corpo e a conexão com seja-lá-o-que-estava-me-ajudando em casa. Parece o avental aberto nas costas me dava uma obrigação moral de ficar deitada e isso não funcionava. Em algum momento meus pais chegaram. Lembro vagamente das suas caras de pânico ao me ver em TP. Estavam claramente desconfortáveis com aquilo e não souberam disfarçar. Minha mãe, dias mais tarde, admitiu que me ver em TP foi das coisa mais difíceis pela qual ela já passou. Ela viveu duas cesáreas. Sobre a médica, algum tempo já na maternidade e nem sinal dela. Namorido tenta, sem sucesso, fazer alguma massagem pra me aliviar. E reclama, em algum momento, que estou apertando a mão dele muito forte. Oi?

Em algum momento a médica chega. “Aninha, vamos te levar pro quarto.”, sumiu. Subi pro 613. Falaram em lavagem. Eu falei logo que queria ir ao banheiro. Fui. A médica apareceu de novo, já está na hora de ir pra sala de parto, foi chamar o maqueiro. Eu volto a ter um pouco do controle que havia perdido. Sinto as contrações, mas elas não doem tanto. Tudo respiração e foco. Muito foco. O maqueiro demora dias. E quando ele chega, eu o odeio, me deitam de novo. Namorido volta a “existir” quando eu noto sua ausência por um longo período, me avisam que ele foi colocar as roupas pra entram no centro cirúrgico. Fico no centro cirúrgico sozinha, deitada em posição ginecológica aguardando a equipe e o pai da minha filha. Sinto frio. O anestesista chega para o que foi, sem dúvida, o pior momento do parto: me vira de lado, orienta o namorido a me “segurar firme” e tenta duas ou três vezes até acertar o ponto da anestesia. Lembra lá em cima quando disse que tenho pânico de agulha? Pois é.

A partir daí é tudo muito rápido e intenso. Começo a ser orientada a fazer força sem sentir mais nada. Não sinto dor. Sinto a médica fazendo o corte da episiotomia sobre a qual não falamos. O anestesista, um homem que eu nunca tinha visto até então, apoia um braço sobre a minha barriga e com a outra mão apoia em um dos meus seios. Namorido segura minha mão sem atentar ao que acontecia. Por um micro segundo me sinto violada e não entendo o porquê daquilo, mas minha atenção se volta ao que está acontecendo “embaixo dos panos”. Empurro (empurram por mim?). Ela nasce. Não chora. “Surreal! Surreal! Surreal!” repito incontáveis vezes. Peço que ela venha imediatamente pro meu peito – lembrei de ter lido como isso era importante e fiz muita questão. Mas ela não chora e não pega o peito. “Por que ela não chora?” eu penso “Bebês tem que chorar quando nascem! O que há de errado?” e deixo que a levem de mim. Hoje percebo quão breve foi aquele momento, não dei tempo pra ela se perceber nascida. Ela chora. Eu me sinto aliviada. Peço para ver a placenta – que foi empurrada para fora pelo anestesista. Parte da equipe se retira levando minha bebê. O pai a segue. Na sala ficamos eu, a GO e o anestesista que preenche algum formulário de uma cirurgia anterior. Na conversa entre eles ela declara “nossa, cortei muito! Passava um elefante aqui!” e ri. Eles me parabenizam e saem me deixando sozinha novamente. Penso em tudo aquilo que acabou de acontecer. Algum tempo depois levam minha maca para a porta do elevador onde eu fico por mais algum tempo. Consigo ver o quadro com as taxas de cesárea da maternidade. Me orgulho do meu parto normal. “Eu consegui!” penso. Chego no quarto. Meus pais me recebem com carinho. Vou ver minha filha cerca de três horas depois.


O parto normal me empoderou de tal forma que acabei tendo um puerpério muito tranquilo. Encarei com força e serenidade as dificuldades das primeiras semanas. Mas esse empoderamento me fez buscar informações e descobrir cada violência que sofri no meu parto (a)normal. Não me arrependo, pois sei que a mulher que pariu a Dora fez o melhor que pode com as informações que tinha naquele momento.


*GO - ginecologista obstetra
** DPP - data provável do parto
*** TP - tabalho de parto

quinta-feira, 12 de março de 2015

do marketing ativo da creche particular.

há pouco mais de um ano, passei por uma saga em busca de creche pra cria. deixei o nome dela em inúmeras filas de espera até encontrar a que nos recebeu de braços abertos com muito carinho e onde Dora ficou por um maravilhoso ano. até optarmos por tentar uma vaga na rede pública. durante esse ano recebi resposta de algumas dessas listas de espera. todas gentilmente recusadas, com uma breve e também educada justificativa. nada de mais. até hoje de manhã. quando recebo no meu celular uma ligação de uma funcionária - que aqui chamaremos de Fulana - representando uma creche - que aqui chamaremos de creche X-particular-com-fila-de-espera-kilométrica. segue o diálogo:

- alôu bom dia, aqui é a Fulana, da creche X-particular-com-fila-de-espera-kilométrica. estou ligando para lhe avisar que surgiu uma vaga para sua filha. para fazer a matrícula precisamos da certidão de nascimento, identidade do responsável, comprovante de... - começa a me dar as informações sem que eu confirme interesse. interrompo.

- ah Fulana, muito obrigada, mas eu consegui vaga na ótima creche Y-pública, e minha filha já está no processo de adaptação.

- nossa, que sorte! mas você já conhece nosso serviço diferenciado? faremos um processo de adaptação muito mais personalizado com sua princesa.
- obrigada, Fulana. estou muito satisfeita com a creche Y-pública. o serviço deles é excelente, minha filha está feliz lá. não temos interesse. e obrigada por pagar seus impostos e contribuir, você também, com a educação da minha filha. bom dia.

nada contra o funcionário vestir a camisa da empresa - e, Fulana, se você está lendo isso, PARABÉNS! ligo lá logo mais pra te indicar a funcionária do mês -, mas me soou prepotente o "faremos um processo de adaptação MUITO MAIS personalizado com sua princesa". será que ela teria o mesmo discurso se no lugar de creche Y-pública eu tivesse dito creche W-particular-com-fila-de-espera-kilométrica?


fora o "sua princesa", que me dá arrepios. mas aí é só chatice minha mesmo. :p 

terça-feira, 10 de março de 2015

todo mundo tá feliz...

a mãe vai buscar a filha na creche, a cria sai falante contando tudo do dia. 'a Dóia comeu fijão','fez dodói', 'jugô bóia', 'tumô xuco' e desanda a cantar:

tudu mudu tá fiíz
tá fiíz!

tudu mudu tá fiíz
tá fiíz!

tudu mudu tá fiíz
tá fiíz!

e só na quarta vez que ela levantou os bracinhos no segundo "tá fiíz" é que a ficha caiu - ou meu inconsciente quis aceitar... - que se tratava de um clássico dos anos 80. eu que tava reclamando do lérigou, nem sonhava que logo ela me apareceria cantando Xuxa.




ins-pira.
ex-pira.
não-pira.

terça-feira, 3 de março de 2015

sobre o desmame natural... o meu.

Desfralde rápido. Bebê que dorme a noite toda. Criança que come bem e de tudo. Dentre as inúmeras situações ideais da maternidade está o desmame lento e gradual. Daqueles que a mãe diz orgulhosa que ‘fulaninho largou o peito sozinho... um dia não quis mais’. Mal aê, mas eu não acredito em você Amamentar é uma delícia e - tirando aqueles primeiros dias horrorosos, que nada se parecem com a Claudia Leite na foto do cartaz campanha de amamentação no posto de saúde – eu nunca tive maiores problemas. Dei sorte, eu sei. Muitas passam meses tentando, insistindo, algumas conseguem outras não. O mercado de leite em pó, mamadeiras e chupetas também não ajuda, sob o discurso de que ‘tudo bem, se você não conseguir nós oferecemos o que há de melhor pro seu bebê’ ele covardemente mina a autoconfiança das mulheres na sua capacidade de amamentar. Dora foi amamentada exclusivamente com leite materno e em livre demanda até os seis meses (Chupa mercado!) Mas eu queria mais. Eu queria poder dizer ‘minha filha mamou no peito até a hora que ela quis, aos poucos não foi querendo mais e um dia parou...’

tudo lindo na amamentação. #sqn

Logo no início entendi que, depois do esforço inicial de adaptação de ambos – fica a dica: bebê não nasce sabendo mamar! - a amamentação tem que ser boa para duas partes. É simbiose, se um lado não sente que tá ganhando com aquilo, dá ruim. No começo, além do sentimento maravilhoso ao ver sua cria engordando e crescendo só com o teu leite, amamentar dá onda. Juro. Melhor coisa era a sensação de relaxamento quando o leite descia, apagávamos inebriadas ela e eu. Mais tarde, quando ela já comia, eu ainda me deliciava com as brincadeiras dela enquanto mamava. Não há descrição fiel da sensação de acalmar um filhote com seu seio. O olho no olho. Tudo uma delícia. Amei amamentar!

Curti muito, tudo. Nunca lamentei acordar a noite pra dar o peito a ela. Até porque, durante algum tempo eu já nem acordava mais. Dormindo comigo ela vinha, se servia, e voltava a dormir. Nunca soube responder a famosa pergunta ‘quantas vezes ela acorda pra mamar a noite?’ Sei lá. Parei de contar na segunda semana de vida dela. Além de me orgulhar, é claro, dos olhares escandalizados quando eu sacava o peito no meio do metrô pra amamentar a menina de mais de um ano e meio. ‘Mas ela ainda mama!?’ ‘Mama sim!’

Tão ocupada levantando a bandeira da amamentação-exclusiva-prolongada-em-qualquer-canto-da-cidade e sambando na cara da sociedade-pró-mamadeira-com-farinha-Láctea-pro-bebê-dormir-a-noite-toda, eu demorei pra perceber que amamentar não tava mais legal pra mim. Não, não tô falando dela. Tô falando de mim. É, da mãe, a dona do peito. Pois é... Primeiro eram os seios doloridos e cheios de leite nos finais de semana que a cria ia pra casa do pai – que adianta você ter o fim de semana para você, se parte dele você passa ordenhando ou regulando a ingestão de líquidos para o peito não encher? Depois começou a me incomodar a forma como ela vinha pro peito não importasse se eu quisesse dar o peito ou não, puxando roupa, me deixando nua onde quer que fosse. Criatura ariana: quando ela quer, ela quer. E, por fim, aos quase dois anos da filha a amamentação começou a atrapalhar o meu sono. Irônico, né?

Foi difícil aceitar que estava ruim para mim. Mais ainda tomar a decisão de que ela pararia de mamar no peito. Muita conversa com ela. E vi que só conversa não surtiria efeito – ariana, lembra? Decidi que eu desmamaria minha filha sem ela querer. Mas por que eu havia chegado ao meu limite, e todo aquele trabalho inicial de entender que a coisa tinha que ser boa pras duas? Tão complexo se enxergar como parte ativa deste conjunto, tão custoso me dar direito a voto nessa decisão. Mas decidi. Também não foi num momento plácido, após muita reflexão e conversa. Foi num momento em que eu vi que não aguentava mais. Falei que não dava mais e ponto.


O desmame natural, lento e gradual aconteceu aqui? Sim. Mas foi o meu, que chegou aos poucos, sem que eu percebesse. Tendo aceito este. Por aqui estamos, há uma semana, no processo de desmame da cria.