poucas são as minhas lembranças
de sentir-me realmente poderosa nesses quase 30 anos sendo quem sou. uma sádica
brincadeira de criança dos anos 80: jogar álcool e tacar fogo em formiga (me
julguem!) no quintal de casa, isso era poder. [Dora se você está lendo isso: NÃO,
VOCÊ NÃO PODE PEGAR O ÁLCOOL NO ARMÁRIO E IR QUEIMAR INSETOS! OU QUALQUER OUTRO
ARTRÓPODE. OU BICHO NENHUM!] outra experiência infantil de poder que tive era
tapar frestas por onde a água escorria no barro durante as chuvas de verão no
quintal da casa dos meus avós, afinal era a capacidade plena de mudar o curso das
águas. uaaaau! ou ainda ensinar truques às minhas cadelas, sensação
fantástica de ser superior (oi?). enfim, nada que me colocaria na lista da Forbes, mas nunca me frustrei com isto.
eis que um dia alguém resolve que
eu daria conta de conceber, gestar, colocar no mundo e criar um indivíduo. fudeu!
gente, isso é poder! a barriga começa a
crescer, a pele e o cabelo exalam amor. as pessoas na rua te acham linda. todos
elogiam, te parabenizam. concordam que aquela é a maior benção que alguém pode
receber. você se torna, de fato, o centro do mundo. o ser mais poderoso do
universo é a mulher grávida.
daí a cria nasce. e, no meu caso,
ainda me mandaram uma cria ariana. Agora sim, fudeu!
contraditoriamente, meu empoderamento
maior veio exatamente no papel em que mais tenho aprendido a ceder e negociar. desde
cedo, quando ela começou a ficar grande aqui dentro e eu precisei aprender a
adormecer de lado e não de bruços, como havia feito a vida inteira. ao nascer e
até hoje era no peito e só no peito que dormia. pra comer, uma colher na
mão dela (não importa a sujeira que ficasse por ali depois) e outra na minha
mão: “filha, quer ajuda?” “nãum, Dóia tomi xozinha!” ou “ajuúda mamain”. aprender
a falar foi um enorme ganho de liberdade, ela sabe se colocar, mostrar seu
limite e até onde quer ser cuidada.
um olhar sem cuidado pode achar
que estou cedendo demais ou até me tachar como desatenta. mas não, o que
acontece aqui entre nós duas dia após dia é uma dança que vem sendo ensaiada lá
desde os dois risquinhos no palito, quando ela me mostrou que eu seria poderosíssima, ainda que não tivesse o controle
de absolutamente nada. aprendemos diariamente uma com a outra, são negociações
calorosas feitas com o olhar, acordos decididos na base de um toque, batalhas
épicas resolvidas na fração de uma beijoca ou na eternidade de um abraço, debates
silenciosos durante a noite, convenções musicalizadas num sorriso... descubro que
o real poder é saber ler o outro e jogar
junto. no fim, ela ganha. sempre. e se ela ganha, eu ganho. afinal, jogamos no
mesmo time.
(ainda bem que eu disse lá em cima que não almejava a lista da Forbes, né?)
As vezes que tentei seguir o que dizem por aí, que nós temos sempre que estar no controle da situação... pq se não fudeu, fudeu literalmente... a nossa relação. Sempre que converso, negocio e provoco o entendimento das situações tudo se resolve ou se encaixa. Pode não ser perfeito, mas com certeza é menos estressante e com mt amor <3
ResponderExcluirexatamente, Ju. lembro do meu pai me ensinando a sair do mar, caso fosse "pega" pela correnteza: é pra gente deixar a correnteza levar, contornar lá no fundo e voltar pra beira. não adianta nadar contra a correnteza, que vai vc cansar e não vai sair dela. vê se isso não cabe perfeitamente na criação dos filhos...? :)
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